Atenção às ameaças e comportamento do lote diante do avanço da Influenza Aviária
A Influenza Aviária, que já é uma realidade nos planteis na América do Sul, tem gerado muitas dúvidas aos envolvidos na cadeia da proteína animal. Convidamos o médico veterinário mestre em saúde animal, Gustavo Triques, para responder às principais dúvidas sobre esta doença. Confira.
1. Qual o risco de ocorrência de Influenza Aviária (IA) nos lotes de frango? Quais medidas são adotadas para diminuir o risco de ocorrência?
Todas as aves domésticas são suscetíveis à Influenza Aviária. O maior ou menor risco de desenvolvimento da doença dependerá do nível de biosseguridade adotado pela granja e pressão de infecção, caso a contaminação ocorra.
Adotar um robusto programa de biosseguridade é a principal maneira de reduzir a chance de contaminação: inicialmente é preciso observar a escolha do local de estabelecimento da granja, que deve ser distante de lagos, de regiões de alta densidade de aves e das rotas migratórias de aves silvestres. Estruturalmente, a granja deve ter condições de restringir acesso de outros animais através de cercas perimetrais e telas antipássaros. Fluxo de pessoas, veículos e equipamentos precisam ser controlados e, quando sua presença for necessária na granja o trânsito deverá ocorrer exclusivamente pela portaria, para que medidas de limpeza e desinfecção sejam tomadas. Por fim, controle de pragas como roedores e insetos e controle de qualidade de água e ração também são essenciais para evitar a ocorrência de IA em lotes de frango.
2. Durante o período de vida do animal, é realizado algum monitoramento para IA?
Normalmente não é realizada a monitoria para IA em aves domésticas no Brasil. As exceções são monitorias sorológicas para fins de certificação e manutenção do compartimento e monitorias ativas do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para aves de ciclo longo (geralmente 10% dos planteis, anualmente).
3. Em caso de positividade de IA, quais sintomas podem ser observados nas aves?
A OIE (Organização Mundial de Sanidade Animal) classifica a Influenza Aviária em dois grupos, de acordo com a letalidade do vírus: Alta Patogenicidade (HPAI) e Baixa Patogenicidade (LPAI). Os principais sinais clínicos observados em casos de LPAI são: queda no consumo de água e ração, letargia, diarreia e sinais respiratórios (espirro, lacrimejamento, descarga ocular e coriza). Os lotes podem apresentar aumento discreto a moderado na mortalidade. Em matrizes ou poedeiras em fase adulta, queda na produção de ovos também é um sinal observado. A principal lesão observada na necropsia é a traqueíte.
Os casos de HPAI podem levar à mortalidade de até 100% do lote e, por se tratar de um caso hiperagudo, muitas vezes os sinais não são observados antes da mortalidade. Quando evidentes, observam-se principalmente sinais respiratórios severos e sinais neurológicos, além de severa letargia. Edema de crista, barbela e cabeça, hemorragia subcutânea e nas pernas, excesso de muco em vias aéreas e petéquias em diferentes órgãos são lesões evidenciadas em necropsias.
4. Qual o manejo adequado em caso de positividade de IA em granjas de frangos e matrizeiros?
Em caso de suspeita para Influenza Aviária ou Doença de Newcastle, o primeiro passo é notificar o veterinário do MAPA responsável pela região e, a partir daí as medidas previstas no Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) são colocadas em prática. Em suma, após a notificação acontece a interdição da propriedade, colheita e envio de material para laboratório, manutenção das aves no local, controle do fluxo de pessoas, veículos, fômites, carcaças e cama, inquéritos epidemiológicos, sequestro de carne e ovos.
Em caso de confirmação para uma dessas doenças, o PNSA prevê: sacrifício imediato de todas as aves no local, destruição das aves que tenham morrido ou sido sacrificadas, eliminação de cama, ração, fezes e fômites, limpeza e desinfecção completa das instalações de criação, vazio sanitário de 21 dias, investigação epidemiológica e proibição da movimentação de aves dentro da zona de vigilância.
5. O diagnóstico no campo, ocorre por meio de teste laboratorial. Qual teste é realizado e quais laboratórios podem realizar esse teste?
Os principais testes realizados para diagnóstico são o HI, PCR e isolamento viral. Outros testes, no entanto, podem ser utilizados: teste da hemaglutinação (HA), ELISA, Tempo Médio de Morte embrionária (TMM), Índice de Patogenicidade Intracerebral (IPIC), Teste de Patogenicidade Intravenosa (IPIV) e Imunodifusão em Ágar Gel (AGP). Em casos de suspeitas clínicas ou mortalidades acima de 10% por galpão em um período de 72 horas, as amostras são enviadas obrigatoriamente para o LANAGRO. Quando a coleta é sorológica para outros fins (exemplo: processo de compartimentação), outros laboratórios credenciados podem realizar o teste.
6. Existe risco para o consumidor com relação ao consumo de frango, que possam ter origem de um lote contaminado?
Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), é possível consumir a carne oriunda de aves contaminadas, desde que bem cozidas, sem que a doença seja transmitida para humanos. Na prática, porém, é esperado que haja uma redução de consumo de frango em países com surto ativo. Independentemente das possibilidades, a carne deverá ser descartada.
Autor: Gustavo Triques, médico veterinário – Mestre em Saúde Animal.
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Gustavo Triques - Médico Veterinário mestre em Saúde Animal
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