Efeitos da utilização de antioxidantes na farinha de carne e ossos e derivados das Fábricas de Farinhas e Óleos (FFOs)
As Fábricas de Farinhas e Óleos (FFOs), ou também hoje conhecidas como rendering, surgiram no início do século XX com o intuito de promover a reciclagem animal a partir dos produtos gerados pelo processo de abate de aves, suínos e bovinos. Anteriormente, o sangue, penas, pelos, vísceras, cascos, entre outros, eram descartados, jogados em rios ou até mesmo enterrados. O Brasil apresenta-se como um dos maiores produtores de grãos e de proteínas de origem animal do mundo. Segundo a Associação Brasileira de Reciclagem Animal, o país produziu 3,6 milhões de toneladas de farinhas de origem animal e 2 milhões de toneladas de gordura animal em 2020 (ABRA, 2021).
Neste contexto, a incorporação de proteínas processadas não comestíveis de origem animal na alimentação de animais de companhia se configura como uma fonte alternativa de nutrientes, além de contribuir para a sustentabilidade da cadeia produtiva de produtos de origem animal. Atualmente, 17,9% da produção de farinhas e 5,5% das gorduras de origem animal são destinadas à produção de rações para cães e gatos (ABRA, 2021).
Esses produtos apresentam alto valor nutricional devido ao seu alto teor de proteínas digestíveis e presença balanceada de aminoácidos essenciais. Além disso, são fontes de gordura, minerais e vitaminas, não apresentam fatores antinutricionais e são considerados de alta palatabilidade. Dentre as farinhas comumente utilizadas como fontes alternativas de proteínas e gorduras na nutrição de cães e gatos estão a farinha de carne e ossos bovina, farinha de torresmo, farinha de vísceras de aves, farinha de penas, farinha de sangue e farinha de peixe.
A farinha de vísceras de aves é caracterizada como o produto obtido por meio do processo de cocção, prensagem e trituração de vísceras de aves, miúdos, cartilagens e retalhos de carne, sendo possível a inclusão de cabeças e patas, desde que não contenham penas. É proibida a adição de resíduos provenientes de incubatórios ou de quaisquer outros elementos estranhos à sua composição. A farinha de torresmo é produzida por meio da cocção, prensagem e moagem de pele e máscara suína in natura e de torresmo.
Apresenta-se como uma fonte rica em proteínas (aproximadamente 80%) e aminoácidos essenciais. Possui alta palatabilidade e digestibilidade, com baixa matéria mineral. A farinha de penas também possui alta concentração de proteínas (mínimo de 80%), sendo desenvolvida de forma a não apresentar fatores antinutricionais, diminuindo assim as chances de ocorrências de reações alérgicas aos animais consumidores. Ela é um subproduto gerado a partir do processamento de penas limpas em digestor com alta temperatura e pressão, com o objetivo de quebrar a estrutura da queratina presente nas penas, fazendo com que a proteína se torne mais digestível para os animais.
A farinha de sangue é obtida por meio do cozimento e secagem do sangue animal, podendo ser encontrada na forma triturada ou em pó. Sua principal característica nutricional é a presença do alto valor proteico. A farinha de carne e ossos bovina se caracteriza por ser um produto triturado, em pó, semi-desengordurado, recolhido em frigoríficos, abatedouros e açougues, constituída principalmente por ossos, cárneos, aparas e vísceras.
Na farinha de carne e ossos bovina não se deve adicionar sangue, cascos, chifres, pelos e conteúdo estomacal. É um produto rico em proteína, cálcio, fósforo e gordura (máximo de 12% de extrato etéreo), e por este motivo, antioxidantes podem ser utilizados em sua composição para evitar a oxidação lipídica. Ela apresenta vantagens nutricionais e econômicas na formulação de rações para animais de companhia, uma vez que, possibilita um melhor aproveitamento na relação custo/benefício.
A farinha de peixe também se apresenta como um produto triturado, em pó, sendo resultado do desengorduramento parcial e secagem por processo térmico de peixes ou de partes deles. Possui alto valor proteico, com ótima digestibilidade e palatabilidade, podendo ser rico em ácidos graxos essenciais (ômegas 3, 6, e 9), e apresenta no mínimo 6% de extrato etéreo. Os óleos provenientes de fontes animais, como óleos de aves e gordura de suínos, são considerados ótimas fontes de lipídios para as formulações de alimentos para cães. Como são de origem animal, possuem alta digestibilidade e palatabilidade, bem como são ótimas fontes de ácidos graxos essenciais ao desenvolvimento do animal. Alguns fatores podem interferir diretamente na qualidade das farinhas, como por exemplo os relacionados a matéria-prima, englobando a origem, tempo entre abate e processamento da farinha, contaminações (físicas, químicas ou microbiológicas), tipo e qualidade do substrato, além da sua composição química.
Podem estar atrelados também ao processamento, como equipamentos, temperatura, tempo no digestor, pressão, grau de oxidação, degradação dos materiais, umidade, moagem, armazenamento e índice de peróxido. Pelo fato de algumas dessas farinhas apresentarem alto teor de gordura em sua composição química, a oxidação dos lipídios pode ocorrer. A oxidação é um processo auto-catalítico, a qual se desenvolve de maneira acelerada e crescente. Uma vez iniciada, fatores como temperatura, enzimas, íons metálicos e luz podem influenciar a formação de radicais livres.
Etapas da oxidação Lipídica
Os lipídios são compostos sujeitos às reações de oxidação, devido à presença de ácidos graxos insaturados em sua cadeia. A oxidação lipídica ocorre quando os lipídios, sob a ação de um catalisador, reagem com o oxigênio, gerando uma reação em cadeia e formando compostos oxigenados como álcoois, aldeídos, cetonas e peróxidos que conferem gostos e odores desagradáveis aos alimentos. Este processo é irreversível. Após o processo de oxidação o produto se rancifica, alterando sua qualidade através de perdas nutricionais, alteração no cheiro e na palatabilidade. Algumas espécies de animais podem rejeitar a ração devido às alterações no odor e sabor do alimento. Uma das alternativas para manter a qualidade dos produtos das FFOs é a utilização de produtos antioxidantes, os quais possuem como objetivo principal, evitar ou minimizar as reações de oxidação nos alimentos. Dois fatores são os principais responsáveis pela aceleração desse processo de rancificação: a umidade e o calor. Segundo Rutz e Lima (1994) os antioxidantes atuam por um ou mais mecanismos, como:
• Doação de H pelo oxidante;
• Doação de elétron pelo antioxidante;
• Incorporação do lipídio ao antioxidante;
• Formação de um complexo entre lipídios e o antioxidante.
A oxidação lipídica ocorre conforme é apresentado na figura abaixo. Por este motivo é importante a utilização dos antioxidantes o mais cedo possível para que essa curva na fase intermediária não ultrapasse os níveis aceitáveis de peróxido.
A equipe técnica da BTA Aditivos realizou um estudo para mostrar a importância da utilização dos antioxidantes nos produtos de FFOs. O estudo foi desenvolvido em uma fábrica de rendering, localizada em uma região conhecida por apresentar altas temperaturas ao longo de todo o ano, e a matéria-prima é adquirida de abatedouros e frigoríficos das cidades da região, localizadas aproximadamente a duas horas de distância. Foram coletadas diferentes amostras de farinhas de carne e ossos (bovina), sendo que em uma das amostras não foi utilizado o antioxidante e nas outras duas foi aplicado o antioxidante BT-OX Premium, que possui como princípios ativos o etoxiquim, BHT (butil-hidroxi-tolueno) e BHA (butil-hidroxi-anisol), em duas quantidades distintas (0,5g/ton e 1,6g/ton). Os resultados obtidos foram os seguintes:
Na farinha em que não foi aplicado o antioxidante, foi observado um Índice de Peróxido superior ao valor máximo recomendado de 10 MEQ/1000 gr. Além de perder seu valor nutricional, a utilização desta farinha pode acarretar prejuízos, uma vez que, quando utilizada, os animais recusarão o alimento devido ao odor forte, diminuindo a taxa de consumo e por consequência aumento no desperdício dessa ração. O antioxidante utilizado BT-OX Premium, faz parte de uma linha completa de antioxidantes da BTA Aditivos, que podem ser utilizados para todos os tipos de matérias-primas e rações. Possui em sua formulação compostos sinérgicos, promovendo a neutralização de radicais livres, e assim, retardando o processo de iniciação de oxidação das rações e dos alimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRA - Associação Brasileira de Reciclagem Animal. Conheça o Setor. Disponível em: https://abra.ind.br/conheca-o-setor/. Acesso em 20 de outubro de 2023.
BELLAVER, C. Ingredientes de origem animal destinados à fabricação de rações. In: Simpósio sobre ingredientes na alimentação animal, 2001, Campinas, Anais... Campinas:
CBNA – Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 2001 p. 167-190. BORGO, Luiz Antônio; ARAÚJO, Wilma Maria Coelho. Mecanismos dos processos de oxidação lipídica. Hig. aliment, p. 50-58, 2005.
FERRARI, Carlos Kusano Bucalen. Oxidação lipídica em alimentos e sistemas biológicos: mecanismos gerais e implicações nutricionais e patológicas. Revista de nutrição, v. 11, p. 3-14, 1998.
FERROLI, P. C. M.; FIOD NETO, M.; CASAROTTO FILHO, N., CASTRO, J. E. E. Fábricas de subprodutos de origem animal: a importância do balanceamento das cargas dos digestores de vísceras. Prod. [online]. v. 10, n° 2. p. 05-20. 2000.
RUTZ, F. e Lima, G.LM.M. Uso de antioxidantes em rações e subprodutos. In: Conferência APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas. Anais... FACTA. Campinas. P.73-84. 1994.
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