Entenda porque os óleos essenciais são fortes aliados na produtividade de aves e suínos
Em certos momentos da vida, os animais passam por situações estressantes que podem desencadear problemas de saúde intestinal e perda de produtividade. A utilização de óleos essenciais na dieta é fundamental para que o lote tenha uma resposta imune mais eficiente para ultrapassar esses desafios.
A utilização de óleos essenciais na dieta de aves e suínos é uma alternativa muito eficiente, pois confere um ambiente intestinal propício para melhorar a capacidade de digestão e absorção dos nutrientes, refletindo dessa forma na saúde integral dos animais.
Quando falamos em produção de aves e suínos, é preciso ter em mente o papel fundamental que o trato gastrointestinal (TGI) exerce na saúde intestinal e integral desses animais. O epitélio intestinal, o sistema imune, a microbiota intestinal e o sistema nervoso entérico agem em sincronia para garantir a eficiência na digestão e absorção dos nutrientes. Ao mesmo tempo, oferecem diversos mecanismos de defesa e barreira entre o lúmen intestinal e a circulação sistêmica, refletindo em um desempenho ótimo. Os animais são expostos frequentemente a inúmeros desafios, como por exemplo:
- Desmame dos leitões
- Troca de dietas
- Transporte
- Condições de ambiência
Nestes casos, um ou mais desses requisitos podem ser comprometidos, desencadeando diversos problemas na saúde intestinal, e consequentemente, na perda de performance desses animais. Confira a seguir como os óleos essenciais podem ser fortes aliados na garantia de lotes mais eficientes e produtivos.
Quais os benefícios dos óleos essenciais na produção de animais?
Não é novidade que as estratégias nutricionais e de manejo tem sido alvos promissores para sustentar e maximizar a eficiência produtiva, tanto pelos desafios consequentes da redução ou banimento do uso dos antimicrobianos na produção animal quanto pelos desafios de resistência bacteriana.
No âmbito nutricional, os óleos essenciais (OE) têm se destacado positivamente como uma ferramenta promissora frente aos velhos e novos desafios na suinocultura e avicultura. Seus benefícios são atribuídos principalmente a uma ampla gama de funções, que conferem um ambiente intestinal propício capaz de melhorar a capacidade digestiva e absortiva, refletindo dessa forma no aumento de ganho de peso e na conversão alimentar.
A compreensão dos mecanismos de ação envolvidos na atuação dos óleos essenciais é muito importante, visto que facilita a utilização prática desse aditivo diante dos diversos desafios intrínsecos da produção.
Principais óleos essenciais utilizados na nutrição de animais
Dentre os principais óleos essenciais utilizados para suínos e aves podemos destacar:
- Carvacrol presente no orégano
- Timol no tomilho
- Eugenol no cravo da índia
- Cinamaldeído presente na canela
A atividade antimicrobiana de óleos essenciais como timol, eugenol e carvacrol têm demonstrado efeitos benéficos na inibição do crescimento de microrganismos.
Os terpenos fenólicos e fenilpropanóides presentes na sua composição é que conferem seus diferentes modos de ação. Devido as variações na composição dos óleos essenciais, os efeitos antimicrobianos frente as bactérias patogênicas ocorrem de maneiras distintas, permitindo atuar em diversos sítios da bactéria. Uma das principais formas de atuação desses compostos é através da desestruturação da parede celular bacteriana, efeito causado principalmente devido à sua característica hidrofóbica, que causa uma perturbação na permeabilidade da membrana celular. Esses danos comprometem a homeostase celular gerando um desequilíbrio no pH e no influxo de íons inorgânicos através da membrana que, devido ao alto gasto energético e esgotamento do ATP, pode levar a morte celular ou paralisar a multiplicação do patógeno. Outra forma de atuação antimicrobiana é através do comprometimento do sistema enzimático bacteriano, no qual gera um bloqueio da virulência do patógeno entérico.
Modo de atuação dos óleos essenciais na célula bacteriana
Como os óleos essenciais atuam nas patogenias
As bactérias gram-negativas são consideradas mais tolerantes às ações dos óleos essenciais em comparação as gram-positivas, devido a barreira formada por sua parede celular composta por lipopolissacarídeos (LPS) hidrofílicos que impedem a atuação dos óleos hidrofóbicos. Apesar disso, alguns óleos essenciais como o timol e o carvacrol conseguem liberar essa camada de LPS devido a sua estrutura química, e dessa forma, ampliam sua ação antimicrobiana contra patógenos gram-negativos.
A atividade antimicrobiana de óleos essenciais como timol, eugenol e carvacrol tem demonstrado efeitos benéficos na inibição do crescimento de Salmonella Typhimurium, Escherichia coli, Staphylococcus e Clostridium perfringens, que são importantes desafios entéricos na suinocultura e avicultura. Essa capacidade modulatória da microbiota intestinal, com redução de microrganismos patogênicos e promoção do crescimento de bactérias benéficas, como Lactobacillus, também evidencia o porquê de os óleos essenciais serem ferramentas promissoras na produção animal.
Ao proporcionar uma microbiota mais equilibrada, esses agentes podem gerar um ambiente propício para regeneração e constante renovação das células epiteliais intestinais, e assim, aumentar a capacidade de absorção dos nutrientes.
Óleos essenciais no desafio da coccidiose
Na avicultura, a coccidiose representa um importante desafio entérico e os óleos essenciais têm sido benéficos no controle da excreção de Eimeria spp. Seus efeitos são observados principalmente no alívio das lesões intestinais ocasionadas pelo coccídeo, assegurando uma melhora no desempenho.
Um dos requisitos que refletem uma saúde entérica equilibrada é a capacidade do sistema imune da mucosa em montar uma resposta adequada frente a patógenos e outros antígenos, e de promover tolerância quando necessário. Tanto a inflamação quanto uma resposta imunológica exacerbada podem comprometer a função de integridade intestinal. Nesse cenário, os óleos essenciais também podem atuar como moduladores do sistema imune reduzindo a inflamação ao suprimir fatores de transcrição e também de citocinas pró-inflamatórias como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α).
Outro destaque importante está relacionado às propriedades antioxidantes dos óleos essenciais que, através da doação de hidrogênio pelos seus grupos fenólicos para os radicais peróxidos gerados num processo oxidativo, agem neutralizando esses compostos e minimizando os danos causados pelo estresse oxidativo. Aqui os ganhos diretos e indiretos poderão ser observados principalmente em situações estressantes já mencionadas, como calor, alta densidade, transporte, parto, além de outros manejos que induzam a um desbalanço e aumento do estresse oxidativo, e consequente prejuízo no desempenho.
Melhorias observadas na inclusão dos óleos essenciais na dieta dos animais
A melhoria na digestibilidade de energia, matéria seca e de nutrientes são alguns dos aspectos observados após a inclusão dos óleos essenciais na dieta. Esse efeito tem sido atribuído principalmente à capacidade de estimulação da secreção biliar e de enzimas digestivas como lipase, tripsina e quimiotripsina. A regulação da contração intestinal e consequente influência na taxa de passagem também estão entre os efeitos dos óleos essenciais, o que pode favorecer a interação entre as enzimas digestivas e o alimento no intestino.
Somado a isso, a manutenção do epitélio intestinal saudável é considerada um indicador de eficiência das funções intestinais como digestão e absorção de nutrientes. Embora os efeitos dos óleos essenciais na morfologia intestinal não sejam amplamente relatados na literatura, em alguns estudos foram observados um aumento nas vilosidades intestinais e redução na profundidade da cripta das vilosidades. O resultado desses efeitos é a melhora na utilização dos nutrientes da ração que refletem em melhorias no ganho de peso e taxa de conversão alimentar.
É evidente que os óleos essenciais se configuram como estratégias promissoras frente aos desafios que interferem na saúde intestinal e no desempenho dos animais. Resultados obtidos a campo demonstram que a utilização consorciada de ácidos orgânicos e óleos essenciais em aves causaram a redução de até 70% na mortalidade do lote, além de melhora no GPD e CA. No entanto, vale ressaltar que trabalhar soluções integradas dentro da granja levando em consideração as estratégias de manejo, sanidade e nutrição de forma conjunta, é o melhor caminho para alcançar o sucesso produtivo e a saúde intestinal e integral na produção de aves e suínos.
Confira como a utilização de óleos essenciais no controle microbiológico e prevenção de zoonoses pode ser uma alternativa bastante viável e promissora para manter a imunidade de aves e suínos diante do estresse metabólico.
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Ítalo Ferreira - Zootecnista, mestre em Nutrição e Produção Animal.
Veja mais posts do autorJéssica Barbosa - Doutoranda e mestre em Nutrição e Produção de Suínos na linha de pesquisa de estratégicas de manejo e nutrição com foco em saúde intestinal de suínos.
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