Carcinicultura - Utilização de ácidos orgânicos na produção de camarões
Nos últimos anos, a produção de camarões e de outros animais aquáticos tem passado por mudanças significativas, devido à proibição do uso de antibióticos na alimentação animal pela União Europeia em 2006. Desde então, essa prática tem se tornado globalmente difundida. A razão para essa restrição está intrinsecamente ligada à preocupação com a transferência de resistência bacteriana entre animais e seres humanos. Diante desse cenário, a busca por alternativas eficazes e seguras para promover o crescimento e combater patógenos na carcinicultura tornou-se uma prioridade. Dentre os aditivos mais estudados na aquicultura encontram-se os probióticos, prebióticos, imunoestimulantes, e mais recentemente substâncias fitogênicas e os ácidos orgânicos.
Tanto os ácidos orgânicos quanto seus sais estão se tornando cada vez mais relevantes na indústria de produção de camarões. Isso se deve principalmente aos diversos desafios sanitários causados por vírus, bactérias intracelulares (rickettsia like bacteria), enterobactérias, fungos e protozoários que esta atividade enfrenta e que dificultam o crescimento dos animais.
Estudos realizados com cepas de bactérias ácido lácticas revelam que seu potencial de inibição contra bactérias patogênicas está relacionado à produção de ácidos orgânicos, como o ácido acético e láctico. Entretanto, relatos de estudos com ácidos orgânicos ou seus sais em camarões marinhos ainda são limitados. Os ácidos orgânicos exercem efeitos sobre a dieta, o trato gastrointestinal e o metabolismo dos animais cultivados por meio de mecanismos distintos, como aponta o quadro abaixo:
Na dieta, os ácidos orgânicos exercem um papel de conservação, reduzindo o pH do alimento, e assim inibindo o crescimento microbiano e por consequência diminuindo a absorção de organismos patogênicos. Essas substâncias podem ser empregadas na elaboração de silagem de pescados, trazendo benefícios à digestão das proteínas devido à redução do pH (em valores de pH baixos, as proteínas são desnaturadas, o que aumenta a superfície de ação das proteases). Além disso, podem ser utilizados de forma a modificar o pH das dietas e levá-las a valores de pHs desejados para um melhor aproveitamento dos nutrientes. Já no trato gastrointestinal dos animais, os ácidos orgânicos inibem o crescimento de bactérias, especialmente as Gram-negativas.
O mecanismo de ação pelo qual os ácidos apresentam esse efeito antimicrobiano se dá da seguinte maneira: os ácidos na sua forma não ionizada atravessam a parede bacteriana e liberam prótons H+ no citoplasma; as bactérias por sua vez, consomem uma grande quantidade de energia em forma de ATP na tentativa de exportar os prótons H+ para o meio extracelular e garantir o equilíbrio do pH intracelular. Esse gasto de ATP resulta em uma depleção de energia celular e posteriormente a morte bacteriana (Figura 1).
No metabolismo animal, os ácidos orgânicos também afetam a ação de enzimas digestivas, como a pepsina, por meio da redução do pH da dieta. Eles podem ainda alterar a atividade in vitro de tripsina e quimotripsina do camarão marinho L. vannamei, bem como servir de fonte energética para o animal, visto que se apresentam como componentes de diversas vias metabólicas.
Enquanto o ácido láctico pode promover a rápida disponibilização de piruvato, o ácido cítrico ou fumarato podem entrar como metabólitos intermediários do ciclo de Krebs. Além disso, os ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, podem ser direcionados para produzir energia pelo ciclo dos ácidos carboxílicos, da mesma forma que outros ácidos graxos de cadeia longa.
Pesquisas com o uso de ácidos orgânicos no cultivo de camarões marinhos ainda são escassos. De acordo com Lückstädts (2008) a adição de 0,5% de citrato de sódio associado a lactobacilos inativados, estimularam o crescimento do camarão Masurpenaeus japonicus. Outro estudo revelou que a adição de 0,25% de formiato de cálcio pode aumentar a sobrevivência do Penaeus monodon.
Nuez-Ortin (2011) observou que em uma dieta suplementada com 0,1% de produto comercial composto por 30-40% de butirato de sódio protegido com óleos vegetais, demonstrou melhorias na digestibilidade da matéria seca, energia e proteína bruta e, em cultivo, aumentou 9% do ganho de peso e 3% da sobrevivência. Outros autores sugerem que, em ensaios in vitro, o uso de ácidos orgânicos, como ácido fórmico, acético, propiônico e butírico, podem inibir o crescimento de vibrios patogênicos para camarões marinhos.
A fim de manter os animais em cultivo saudáveis, com alto desempenho zootécnico e o adequado funcionamento do sistema digestivo, recomendamos a utilização do blend de ácidos orgânicos Salmokill® Powder, que visa garantir uma melhor absorção de nutrientes e o equilíbrio da microbiota intestinal.
Garantir o sucesso produtivo de um lote é um processo complexo e abrange diversas etapas, e a manutenção da saúde intestinal é considerada peça-chave para o bom desenvolvimento de resultados. A aplicação dos ácidos orgânicos apresenta diversas vantagens na carcinicultura moderna e pode ser utilizado como ferramenta estratégica na busca por melhores índices zootécnicos.
Além disso, o Salmokill® Powder possui um revestimento a base de ácido graxo, que possibilita a proteção e liberação do seu princípio ativo somente no intestino dos animais cultivados. Apesar dos ácidos orgânicos não dissociados poderem atravessar a membrana e serem absorvidos pelas primeiras porções do intestino, a microencapsulação (proteção) poderá garantir a sua chegada até o final do tubo digestivo, sendo então absorvido ao longo de todo o trato intestinal.
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